Hoje vou detalhar mais sobre como a sensação de "não ser bom
o suficiente" é criada dentro de nós.
No caso da cliente em questão, vamos chamá-la de Adriana (nome
fictício). Esse sentimento foi gerado a partir da relação com a mãe na
infância, que nunca ficava satisfeita com nada que a filha fazia. Sempre que
Adriana executava alguma tarefa em casa, fosse limpar, arrumar ou cozinhar, sua
mãe acriticava dizendo que não estava bem feito e que
ela não sabia fazer nada direito, e refazia a tarefa. Por mais que tentasse o
seu melhor, a reação da mãe era sempre negativa. Nunca recebia elogios e incentivos.
Com isso Adriana foi desenvolvendo problemas em sua autoestima, dificuldades de confiar em si mesma e nos outros, e uma sensação
de não ser boa o suficiente. Quando internalizamos esses sentimentos
na infância e eles não são curados, vamos projetar essa insegurança ao longo da
adolescência e vida adulta trazendo problemas nos relacionamentos, vida pessoal
e profissional. Foi o que ocorreu com Adriana.
A sensação de não ser bom o suficiente normalmente surgirá na
infância. A criança tem necessidade de receber amor, aprovação através de
incentivo e elogios para desenvolver sua autoestima e amor próprio. Entretanto,
na maioria das relações entre pais e filhos o incentivo e elogio são escassos.
E para piorar o quadro, há bastante crítica, de forma direta ou indireta que
leva a criança a baixar sua autoestima.
Vou listar alguns tipos de situação que costumam gerar problemas
no desenvolvimento emocional dos filhos:
Cobrança
excessivas - Pais muito cobradores dificilmente demonstram satisfação.
Frequentemente demonstram estar decepcionados, irritados, frustrados com o que
ele consideram falhas e erros dos filhos. Os filhos tentam agradar muitas
vezes, mas raramente conseguem. O que os pais desejam com a as cobranças é
incentivar o filho a melhorar. A intenção é boa. Mas, a mensagem que os pais
passam, inconscientemente, é: você não é bom o suficiente. A criança se sente
culpada e responsável pela eterna insatisfação dos pais.
Comparações
negativas - Isso ocorre quando dizem para a criança coisas do tipo:
"você deveria ser igual ao seu irmão que é estudioso, educado,
obediente...". O objetivo dos pais é incentivar, mas a mensagem que a
criança recebe é: "meu irmão é melhor do que eu, tento e não consigo
ser igual; não sou bom o suficiente; para ser amado e reconhecido pelos meus
pais tenho que ser igual ao meu irmão".
Elogios às
pessoas de fora: Em algumas famílias, existe o hábito de encontrar qualidades nas
pessoas de fora, nos filhos dos outros, e falar diante das crianças em casa. É
uma comparação negativa velada. Assim, os pais tentam incentivar os filhos a
melhorar e ser igual a outras crianças que consideram como exemplos. Mas o que
esse hábito, aliado ainda a falta de elogio e incentivo em casa, gera na
criança é a seguinte sensação: "todos são melhores do que eu; meus pais
ficam satisfeitos com os outros, mas não comigo; não consigo agradá-los; não
sou bom o suficiente...".
Críticas e
repreensões - Dar limites e ensinar a
criança é bem diferente de criticar e repreender. Críticas e repreensões vêm
normalmente carregadas de raiva, irritação e julgamentos que passam para a
criança a mensagem de que elas não são dignas de receber amor, e que tem algo
de errado com elas. Quanto mais baixa a autoestima dos pais, mais insatisfeitos
eles são consigo mesmos e maior será a tendência em projetar essa insatisfação
nos filhos, em forma de críticas e repreensões carregadas de emoções
negativas.
A habilidade de educar com amor e respeito a criança, e ao mesmo
tempo firmeza e dose certa nos limites, está diretamente ligada ao nível de
autoestima dos pais. Essa autoestima dos pais, por sua vez, está diretamente
ligada à maneira como foram criados pelos seus pais. Nossa autoestima costuma
ser bem parecida com a dos nossos pais etendemos,
de modo inconsciente, a repetir o mesmo padrão de criar os filhos.
Observe que a intenção dos pais é sempre a de incentivar a criança
a ser uma pessoa melhor, mas acabam provocando sérios problemas de autoestima.
Até mesmo aquele pai severo que bate no filho, faz isso por achar que é o
melhor caminho, que e a única forma que funciona, e por não conhecer na prática
nada diferente que realmente dê resultados. Normalmente o que esse pais pensam
é: "fui criado dessa
forma e hoje sou uma pessoa decente; filhos que não são criados assim, perdem o
respeito e não crescem na vida; se eu não criticar, bater e repreender estarei
incentivando meu filho a ser tudo que não presta; esse é o problema dos jovens
de hoje..."
Crianças e jovens que não respeitam ninguém, certamente não
receberam limites de forma adequada pelo pais. Mas é plenamente possível educar
de modo firme e com amor, sem precisar de violência (seja física ou emocional)
para ter uma criança ou jovem bem equilibrado. Entretanto, conforme já dito
anteriormente, normalmente somente pais com boa autoestima (e bem informados)
conseguirão agir da melhor forma. Explicar esse tema em detalhes levaria
algumas páginas.
As emoções e impressões negativas das experiências que a criança
passa vão se acumulando, dando origem à sensação de não ser boa o suficiente,
além de vários outros pensamentos e sentimentos parecidos: "não sou
competente; tudo que faço dá errado; não sou digno de receber amor; tem algo de
errado dentro de mim; ninguém vai me amar (se nem meus pais me amaram...);
tenho que agradar as pessoas; não consigo agradar ninguém etc.. E todos esses
sentimentos, por sua vez, vão gerar diversos problemas na vida profissional e
nos relacionamentos.
André Lima - EFT
extraído do blog passarinho no telhado